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Bolinho Caipira e as Festas Juninas

O bolinho caipira é o prato símbolo da região do Vale do Paraíba. Em época de festa junina, o quitute é facilmente encontrado quermesses e eventos de comunidades locais. Mesmo com variantes de recheio, adaptadas em cada cidade, a receita com farinha de milho, polvilho, sal e água, essencialmente, faz o paladar dos apreciadores palpitar.

Sendo muito popular, existem histórias e boatos sobre o local de surgimento do bolinho caipira. Uns dizem ser de Jacareí, outros, de São José dos Campos. Mas afinal, como teria sido iniciada a receita e de qual cidade surgiu a iguaria mais famosa da nossa região?

Segundo o historiador Alberto Capucci Filho, de Jacareí, o bolinho caipira original seria feito com peixe e sem fritura. ”Ninguém pode afirmar isso com precisão, pois ainda não há documentação a respeito. Sou da opinião que seja uma herança dos povos indígenas que habitavam a região, de cultura tupi, que até hoje cultivam o milho branco. Como os indígenas não faziam fritura, nem criavam porcos, suponho que a receita original seria com peixe. Com a colonização portuguesa, aconteceu a mudança para a carne suína e depois linguiça”, diz o historiador, que em 2009, liderou o processo de registro do bolinho caipira como Patrimônio Imaterial de Jacareí.

História do Bolinho Caipira

Os primeiros relatos de comercialização do bolinho são da década de 20. No início de 1924, em Jacareí, dona de uma banca no Mercado Municipal, Nicota Gehrke, popularizou o bolinho pela cidade. Além do comércio da Dona Gehrke, os botequins também contribuíram para isso. Ali, as pessoas que vinham do campo faziam suas refeições, onde saboreavam a iguaria.

Mercado Municipal
Foto: Reprodução

Em São José, na mesma época, os bolinhos eram vendidos em bancas atrás da igreja matriz. Eram recheados com lambari, uma vez que eram servidos durante a Semana Santa. Por característica, as receitas de cada cidade se diferenciam pelo recheio e pela farinha. Em Jacareí, o bolinho é feito com farinha branca e recheio de carne ou linguiça suína. Em São José, a farinha é amarela e é recheado com carne bovina. Há ainda variantes em outras cidades do Vale

O que dificulta para encontrar um local específico de surgimento é a falta de provas contundentes que possam documentar, precisamente, onde foi criada a receita do bolinho caipira.

De modo geral, a importância está em reconhecer que o bolinho é do Vale do Paraíba. Uma tradição da região. Como explica a folclorista Ângela Savastano. ”Quando se estuda a origem de uma manifestação cultural, não se identifica apenas uma cidade, mas uma região. Essa é uma característica da cultura popular brasileira, que, dependendo da época, se come uma comida típica.”, diz ela, uma vez que o bolinho é comumente ligado às festas juninas.

”O bolinho faz parte justamente da identidade do Vale do Paraíba. Ele simboliza o estar junto.” –  Patrícia Cruz, museóloga.

Outras variações do Bolinho Caipira

Além dos sabores mais tradicionais, comercializados em Jacareí e São José dos Campos, existem outras variações da iguaria pelo Vale do Paraíba e interior de São Paulo. Em Caraguatatuba e Paraibuna, existem registros de recheio de peixe em suas composições, principalmente o pequeno lambari, muito apreciado em petiscos e pratos de entrada.

Já em Caçapava, o que chama a atenção é o formato esférico do bolinho, que não é achatado como os demais. Por fim, também é possível encontrar em sites variações com recheio de frango, outras especiarias e verduras, além de bolinhos tidos como ‘gourmet’, recheados até mesmo por carnes nobres como filet mignon. Existem até mesmo bolinhos doces, com diversas composições, tendo o intuito de realmente agradar todos os paladares.

Interior

Além do paladar e da cultura, o bolinho é associado às quermesses, festas e cerimônias religiosas. Ele é sinônimo de amizade, de interior. ”O bolinho caipira é um representante da união entre as pessoas. Ele está ligado às memórias afetivas e culturas”, diz Patrícia Cruz, museóloga de Jacareí.

Mesmo sem local exato de surgimento, o bolinho caipira é a maior contribuição gastronômica do Vale do Paraíba. De sabor ímpar e tradicional, maior felicidade é saber que ele é pertencente a nossa região e tem significado muito maior do que ser apenas um alimento. Representa o povo trabalhador, que vem do campo para a cidade, que vive em sociedade, que mantêm viva a memória do passado, que não se esquece de sua origem humilde e vale paraibana.

Festa Junina – Origem

festa junina e Bolinho Caipira
Foto: Reprodução
Festa junina sem Bolinho Caipira é impossível no Vale do Paraíba.

De início pagão, a festa junina foi adaptada para o cristianismo com o avanço da religião na Europa, assim, a festividade acabou sendo incluída no calendário de celebrações católicas. Segundo relata a história, essa festividade comemorava em suma o solstício do verão (passagem da Primavera para a época mais quente do ano), e tinha o objetivo de afastar maus espíritos e promover uma boa colheita no campo. Diferentemente do Brasil, o verão europeu acontece em junho, quando em nosso país, o clima é predominantemente frio.

Data-se do século XVI a chegada da festa junina ao Brasil, uma vez que o país foi colonizado por Portugal, onde a prática da festividade é difundida e popular. Anteriormente o cunho religioso se fazia mais presente, ainda que seja frequentemente lembrado e observado nas comemorações da data, comumente conhecida como festa de São João. A referência ao santo também estava presente no nome popular da festa, que se chamava ‘festa joanina’; com o tempo, o nome passou a ser festa junina, em referência ao mês de junho.

Outra forte característica da festa junina é relação com a zona rural, costumes do povo caipira, principalmente nos quitutes comercializados neste período como o bolinho caipira para quem é do interior do São Paulo, pé de moleque, quentão, produtos à base de milho, entre outros. Vale lembrar também as tradicionais danças que marcam este período, como as quadrilhas, comumente dançadas por casais travestidos de caipiras para entrarem no clima de festa.

Diferentemente de outras festas com datas fixadas no calendário, a festa junina preenche todo o mês corrente de junho, então, basta aproveitar as celebrações, saborear as comidas típicas e curtir o ”arraiá”!

Por João Lucas Batista

Foto destaque: reprodução.

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