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Desde que foi reconhecida como produto exclusivo do Brasil, em 2013, a cachaça deixou de ser associada à bebida de baixa qualidade.
Exportada para quase 80 países e com produção anual de 1,3 bilhão de litros, a cachaça brasileira é a terceira bebida destilada mais consumida no mundo, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Só no Brasil são cerca de quatro mil marcas de cachaça e 30 mil produtores. E a Paraíba é um deles.
É tudo tão diferente do que se costuma falar sobre o Nordeste das praias que tem até uma rota para quem quer aproveitar o clima frio, em plena Serra da Borborema, no interior da Paraíba.
A 130 quilômetros de João Pessoa, aproximadamente, o roteiro ‘Caminhos dos Engenhos’ reúne produtores que podem ser visitados, em municípios como Areia, Bananeiras e Alagoa Grande.
Já de julho a setembro, a rota ‘Caminhos do Frio’ acontece em nove municípios que se revezam em eventos que vão de arte em Pilões à feira de agricultura familiar e oficinas de hortas suspensas, em Serraria e Remígio, respectivamente.
CACHAÇA DA PARAÍBA
Esse estado nordestino é considerado o maior produtor de cachaça de alambique do Brasil. Segundo a Associação Paraibana dos Engenhos de Cachaça de Alambique (ASPECA), são 12 milhões de litros por ano, em 80 engenhos.
Notas de mel, aromas frutados e sem queimação.
A fama da cachaça paraibana se deve à baixa acidez da bebida na região, permitindo assim melhor percepção do sabor e do aroma, segundo o professor do Departamento de Tecnologia Sucroalcooleira da UFPB, Pablo Nogueira Teles Moreira.
Moreira destaca também a fermentação caipira na Paraíba, técnica que aproveita as leveduras selvagens da cana, sem a necessidade de acrescentar levedura comercial, e a umidade do Brejo paraibano.
“As chuvas costumam ser mais regulares, garantindo oferta de água para toda a safra e padronização da bebida”, diz Moreira.
Caminhos dos Engenhos
Mas como a gente não veio aqui só para conversar (e muito menos se perder em assuntos técnicos), confira as atrações desse roteiro, cujos termômetros chegam a marcar temperaturas inferiores a 20º, nos meses mais frios.
A 127 quilômetros de João Pessoa, Areia é conhecida pelo casario colorido bem preservado que lembra a época em que a cidade foi um importante centro cultural da Paraíba, impulsionado por fazendeiros e senhores de engenho que passaram a circular por ali com a chegada do transporte ferroviário na vizinha Alagoa Grande.
Um dos destaques da região rural da cidade é o Engenho Triunfo, empreendimento familiar tocado pelo casal Antônio Augusto e Maria Júlia Baracho, onde é possível acompanhar etapas da produção de cachaça e provar a mesa preparada para os visitantes com produtos como frutas, sucos e até sorvete de cachaça.
Já o Engenho Vaca Brava recebe visitantes para conhecer suas instalações, onde fica um engenho a vapor de 1865, em funcionamento até 2014.
O atrativo, também em Areia, produz por ano cerca de 3,5 milhões de litros, como a cachaça Matuta, armazenada em tonéis de inox ou umburana.
Outra atração do município é o Museu da Rapadura, no antigo Engenho da Várzea. Localizado em um casarão de 1870, o local tem acervo com maquinário, cômodos residenciais da época e uma coleção com mais de 300 garrafas de cachaças brasileiras.
A 105 quilômetros da capital paraibana, o município de Alagoa Grande é endereço do engenho Lagoa Verde, produtora da Volúpia, considerada a primeira cachaça do Brasil comercializada em garrafas de porcelana.
Com processo de produção 100% natural e plantio da própria cana, esse engenho do século XIX é aberto para visitas e tem salas de degustação e um concorrido restaurante, sobretudo nos finais de semana.