O climatologista brasileiro, um dos cientistas mais importantes do país, e ex-conselheiro do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) Carlos Nobre foi eleito nesta semana como membro estrangeiro da Royal Society, a academia de ciência mais antiga (desde 1660) ainda em atividade no mundo.
Após D. Pedro 2º (1825-1891), ele é o único brasileiro a ser aceito na entidade com sede em Londres. Para fazer parte dessa sociedade, os membros devem ter feito contribuições substanciais ao conhecimento de áreas do saber.
Pesquisador associado do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo), Nobre trabalha há décadas com pesquisas focadas em clima e Amazônia.
Há mais de três décadas Carlos Nobre já apontava, em estudos, o risco de, com o avanço do desmatamento, o bioma chegar a um ponto de não retorno (em inglês, “tipping point”) e passar por um processo de savanização, secando e perdendo sua enorme biodiversidade e os serviços ambientais que presta ao mundo.
Ao problema trazido pelo desmate, soma-se a crise do clima, que nos empurra mais rápido para esse desfecho. “Isso nos coloca na beira do precipício do ponto de não retorno”, afirma em entrevista para a Folha de São Paulo.
Mais sobre Carlos Nobre a atuação da Royal Society
Segundo o pesquisador, sua escolha como membro da Royal Society se deve à preocupação mundial em salvar a Amazônia da savanização, que, inclusive, já se mostra presente em trechos destruídos da floresta.
O cientista ressalta que, caso o ponto de não retorno seja atingido, dificilmente metas climáticas globais postas pelo Acordo de Paris serão cumpridas, mais um ponto que atrai a atenção internacional.
“O último relatório de IPCC só faltou bater na cara da sociedade, dos políticos com o risco que nós estamos vivendo no planeta. E partimos imediatamente para diminuir as emissões? Não. As emissões continuam a aumentar e, por causa da guerra na Ucrânia, estão aumentando mais ainda”, afirma Nobre à Folha.
“Carlos Nobre, além de um grande cientista, é um incansável defensor da Amazônia e de ações firmes e urgentes para o combate às mudanças climáticas globais. Foi, é e sempre será uma grande inspiração para jovens pesquisadores preocupados com o futuro da humanidade, a exemplo de muitos cientistas do IPAM”.
Foto: José Cruz/ Agência Brasil