A tecnologia promete chegar de vez nas grandes cidades, cidades que querem se tornar inteligentes e a mobilidade urbana segue em busca de novas soluções para melhorar a fluidez do trânsito, enquanto sonhamos com a chamada onda verde, o especialista em mobilidade urbana colunista do Trânsito Aberto, Edinho Guedes nos conta um pouco mais sobre o assunto.
Os semáforos são dispositivos incompreendidos pelos condutores, geralmente vistos como aquele que quebra a tão sonhada fluidez no trânsito, porém, são na verdade importantes dispositivos de engenharia de tráfego que garantem mais segurança viária e especialmente, a própria fluidez das vias urbanas, em que pese a percepção em contrário.
O grande desafio da mobilidade urbana é conseguir garantir que os cidadãos compartilhem o espaço público da cidade, por meio da escolha democrática do tipo de deslocamento que melhor lhe convir, para isso, controlar os movimentos, por meio do sistema de fluxo e contrafluxo, como uma torneira de água, é a principal contribuição dos semáforos na gestão do trânsito.
Com os estímulos luminosos coloridos (verde, amarelo e vermelho), todos regulamentados por norma federal, como sinalização de trânsito, o semáforo impõe dever de obediência não só aos veículos, como aos pedestres e ciclistas, os modais mais frágeis, na luta diária por espaço seguro nas vias públicas.
Um exemplo é que em faixa semaforizada, o semáforo retira a preferência de travessia dos pedestres e assume o controle da situação, obrigando o cidadão, por imposição legal, aguardar a abertura do semáforo de pedestres para só assim atravessar. Muitos, pela ansiedade do dia-dia escolhem colocar a vida em risco desrespeitando esta norma básica, alguns, infelizmente, perdem a vida por esta escolha ilegal.
Porém, de fato o semáforo pode ser um desastre para o razoável fluxo de veículos, quando instalados em corredores de grande fluxo, mas com os ciclos programados de forma desencontrada, criando o irritante, “anda e para”, responsável pela má fama dos semáforos.
Neste caso a solução é a “onda verde”.
A onda verde, propõe inicialmente a interligação de todos os semáforos em rede, possibilitando um controle central dos ciclos, com isso, aplica-se a sincronização dos tempos de abertura e fechamento, criando a coincidência programada do sinal verde, em efeito cascata, por meio de uma fluidez segura e inteligente.
Algumas experiências com controle de fases semafóricas por sensores nas sinaleiras, que medem os sinais de celulares em deslocamento nos veículos, já estão em testes, e prometem auxiliar ainda mais o deslocamento seguro e eficiente no trânsito propiciando uma verdadeira onda verde em horários de pico.
Confirmando a máxima de que, “resolver problema de trânsito alargando rua, é o mesmo que tentar resolver o problema de obesidade afrouxando o cinto da calça”, os semáforos são provas “vivas” de que a fluidez no trânsito será cada vez mais garantida pelo uso intenso da tecnologia na engenharia de tráfego, que como os aplicativos, reinventam a cada dia as formas de nos deslocarmos na cidade. Com ou sem onda verde.
Edinho Guedes é Advogado, Professor Federal de Direito e Gestão, Secretário de Mobilidade Urbana, pós graduado na Escola de Governo da USP e mestre em gestão pública.
Como funcionam os semáforos inteligentes.
Mas, afinal, o que um semáforo precisa fazer para ser considerado inteligente e como isso o diferencia de um modelo comum.
Na parte mais básica, um semáforo inteligente funciona como um modelo tradicional. Estão lá as luzes vermelhas, amarelas e verdes, composta por LEDs em modelos mais atuais. Esses modelos tradicionais têm um controle que permite estabelecer temporização —ou seja, quanto tempo cada luz ficará acesa— programada com antecedência que varia ao longo do dia, causando o efeito onda verde no trânsito.
Para determinar essa programação, os órgãos operadores de tráfego analisam questões como a variação do fluxo de carros da via, congestionamentos e outros fenômenos que interferem na circulação, e criam a onda verde.
O que um semáforo inteligente tem de diferente é que ele é capaz de se adaptar às condições de trânsito em tempo real.
Para isso, há um sistema de sensoriamento que pode incluir câmeras de processamento de imagem e sensores eletromagnéticos instalados no asfalto para a coleta de dados.
Esses dados são analisados por um sistema de controle computadorizado e, a partir daí, há uma variação na temporização das luzes, para que o semáforo as mude de forma sincronizada com outros da região.
Um exemplo de onda verde: em um cruzamento entre uma rua com tráfego intenso de carros e outra mais tranquila, um conjunto de semáforos pré-programados tende a priorizar o tempo de abertura para a via mais movimentada.
No entanto, caso a rua menos movimentada passe a ter um movimento acima do normal, a tendência é que seja formado um congestionamento que afetará outras vias da região.
Caso um conjunto de semáforos inteligentes estivesse em operação, a onda verde proporcionaria um fluxo de veículos melhor organizado, já que ele adaptaria automaticamente o período de acionamento de cada luz em tempo real, minimizando o impacto sobre o trânsito.
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A adoção de semáforos inteligentes, de maneira geral promove maior qualidade na circulação viária com onda verde. Há estudos feitos no Brasil que apontam melhorias em torno de 20% a 30% no fluxo de tráfego.
O ideal é que uma cidade tenha todos os cruzamentos com semáforos do tipo, com uma central de controle fazendo a gestão automatizada de todo o tráfego urbano.
A Prefeitura de São José dos Campos, por meio da Secretaria de Mobilidade Urbana, iniciou a ampliação dos semáforos inteligentes com a instalação do sistema nas regiões central e leste do município. A iniciativa para uma onda verde na cidade faz parte do Plano de Gestão 2021/2024.
Mas isso depende de diversos fatores, já que a adoção de semáforos do tipo em uma pequena área pode melhorar o trânsito naquela região em detrimento da fluidez em vias adjacentes.