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O Vale “Nos Tempos do Imperador”, as viagens de Pedro 2º

Você sabia que o Imperador Dom Pedro 2º, e a Família Real, visitaram várias vezes as cidades do Vale do Paraíba? Pois bem, história da vida real e ficção se misturam nas viagens do imperador à nossa região.

A novela Nos Tempos do Imperador, exibida pela Rede Globo, é ambientada no Rio de Janeiro de 1856 e é uma continuação de Novo Mundo (que contava a história do Reinado de Dom Pedro I). A trama de Alessandro Marson e Thereza Falcão gira em torno da história do Brasil, que ainda procura uma identidade própria sob o comando de Dom Pedro II.

Ainda não sabemos se a novela vai mostrar algumas dessas viagens do imperador ao Vale do Paraíba, mas a verdade é que o historiador, pesquisador e professor joseense, Glauco de Souza Santos, formado pela Universidade de Taubaté (SP) e Publicitário formado pela Faculdade de Comunicação Social Casper Líbero (SP), narrou essas histórias em seu blog: Nos passos do Imperador, criado em 2011 já contava estas histórias.

Segundo o historiador a última viagem de d. Pedro II ao Vale do Paraíba aconteceu em 1886. “São recortes dos principais acontecimentos dessa que foi a principal viagem do Imperador tentando apaziguar os ânimos dos cafeicultores escravocratas”

Ainda segundo o professor Glauco Santos as cidades da região ainda guardam os registros históricos dessa viagem que foi a que o imperador mais se esmerou em agradar a população da região:

“Seria não só a última viagem de d. Pedro II pelo Vale do Paraíba, mas também a que o Imperador mais se empenhou para agradar a todos nas cidades pelas quais passava”, declarou.

1886: o último espetáculo do Imperador

Na segunda metade do século XIX coube aos jornalistas publicarem, com apenas um dia de diferença, os detalhes minuciosos dessa última viagem de d. Pedro II pelo Vale do Paraíba.

Por telegrama, o correspondente do jornal Correio Paulistano (19 de outubro de 1886, p. 2) relata a chegada do Imperador em solo valeparaibano: “estação da Cachoeira, 18 de Outubro, 12.30 da tarde. Há dez minutos chegou a esta estação o trem Imperial, que saíra da corte as 6 da manhã, sendo a viagem feita nas melhores condições”.

A extensa comitiva contava com cerca de trinta pessoas, onde estavam a família Imperial, além de nomes importantes onde destacam-se dentre outros o pintor Almeida Júnior, o Barão de Parnaíba, então presidente da província de São Paulo, o conselheiro Antônio Prado, o dr. Cochrane, além de ministros da Bolívia e da Argentina. (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p. 2). De Cachoeira, partiram para Lorena.

O Imperador em Lorena

Segundo consta na ata da Câmara Municipal de Lorena em 19 de setembro de 1886, uma determinação para que “fique autorizado o sr. Presidente da Câmara a fazer as despesas precisas com concertos de ruas e praças e outros serviços, a fim de se preparar a Cidade para receber Sua Majestade, o Imperador”, porém colocava uma ressalva que até então não tinham aparecido nas demais visitas de membros da família Imperial: “devendo observar a maior economia possível nesses dispêndios” (Ata da Câmara de Lorena, 19 de setembro de 1886).

“Os pontos principais de visitação, o palacete Moreira Lima, a igreja de São Benedito, foram iluminados a gás, especialmente, instalado para o acontecimento” (SOBRINHO, 1978, p. 105). Além disso, a Câmara Municipal solicitou à Companhia da Estrada de Ferro do Norte que pintasse e preparasse a estação de trem da cidade para a recepção do Imperador (Ata da Câmara de Lorena, 29 de setembro de 1886).

O Conde e o Imperador
Conde de Moreira Lima

Na estação, o Visconde de Moreira Lima e sua esposa encontraram com a família Imperial e os levaram de bondes até a Igreja de São Benedito, onde o monarca pode fazer sua oração.

Dali saíram rapidamente para outra obra com a marca dos Moreira Lima, o Engenho Central, que era na época a menina dos olhos do Visconde. Ele mesmo, no empenho de mostrar à família Imperial o estado de progresso daquela fábrica e da cidade, tentou por via da Câmara aprovar a utilização dos bondes à tração animal ou a vapor, que levariam a comitiva da estação até à usina.

O projeto levou a um embate entre os vereadores, onde alguns eram contrários à ideia, pois acreditavam “ser inconveniente e desastroso bonde por tração à vapor dentro da Cidade” (Ata da Câmara de Lorena, 5 de outubro de 1886).

A Família Imperial em Guaratinguetá

Em Guaratinguetá, a estação estava toda enfeitada com arcos, folhagens e bandeiras. “O povo aglomerava-se na plataforma” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). Ao descer do vagão, o Imperador foi recebido por autoridades políticas, pelo juiz e pelo vigário, que deu vivas à família Imperial, tudo ao som do Hino Nacional.

Desta vez, o pedido da Imperatriz foi atendido e a comitiva seguiu de trem até à capela de Nossa Senhora Aparecida. (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2). Infelizmente não chegou até nós os relatos desse ilustre encontro com a imagem da santa.

O Imperador em Pinda

Em Pindamonhangaba, a primeira notícia da visita da família Imperial foi publicada no jornal Tribuna do Norte, de 12 de setembro de 1886 (p. 3), chegando na cidade no dia 19 de outubro. O povo reuniu-se na plataforma para tentar avistar o Imperador, que ao som de “duas bandas de música – Santa Cruz e João Gomes, SS. MM. foram cumprimentados pelo juiz de direito” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p.2).

A mesma estranheza ao ler que somente o juiz foi receber o monarca teve o jornal Tribuna do Norte (24 de outubro de 1886, p. 3), relatando que “si não fôra o Dr. Leão Velloso, nosso digno Juiz de Direito, não se encontrariam SS. MM. senão com os empregados da Estação”. Pela segunda vez, os titulares da cidade não fizeram questão de recepcionar um membro da família Imperial.

O Imperador, o Barão de Tremembé e Taubaté

Taubaté, onde de início iria parar apenas para almoçar, mas ao contrário de Pindamonhangaba, sendo bem recebida pelo então Barão de Tremembé, decidiu ficar mais tempo. Enquanto a banda de música Princesa Imperial tocava, ocorreu um fato inusitado e constrangedor para as autoridades taubateanas.

Um perspicaz batedor de carteiras conseguiu furtar o relógio e a corrente de ouro do Marquês de Paranaguá, “afirmaram outros, entretanto, que o roubado fora o dr. Francisco Ribeiro de Moura Escobar, então delegado de polícia de Taubaté” (Correio do Vale do Paraíba, 28 de dezembro de 1945, p. 5).

O Barão de Tremembé ofereceu aos monarcas e comitiva um grandioso almoço. Ao entrar no palacete do Barão, duas meninas jogaram pétalas de rosas sobre Suas Majestades. Lá dentro, antes do almoço, o Imperador recebeu a comissão da colônia italiana que prosperava em Taubaté.

Caçapava, São José dos Campos e Jacareí

Na manhã do dia 20 de outubro, partiu a comitiva Imperial rumo à Caçapava, levando no trem o dr. Falcão Filho, o dr. Paula Toledo e o Barão de Tremembé. Em Caçapava, o Imperador desceu na estação onde foi recepcionado em alas dos alunos das escolas públicas da cidade e pelas autoridades ali presentes.

Pela primeira vez, d. Pedro II pisava em solo da progressista cidade de São José dos Campos. A comitiva foi recebida pelos vereadores da Câmara Municipal e por outras autoridades da cidade. “Música, salvas de bombas, recepção entusiástica” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p. 2).

Antes de saírem do Vale do Paraíba rumo à capital da província, também fizeram rápida parada na cidade de Jacareí, onde o cerimonial de recepção foi o mesmo das cidades anteriores. “O dr. juiz de direito serviu café a Suas Majestades” (Correio Paulistano, 20 de outubro de 1886, p. 2).

O Imperador parece ter gostado da recepção feita pelo Barão de Tremembé em Taubaté, pois um mês depois, na viagem de volta à Corte, a comitiva Imperial também pernoitou na cidade. D. Pedro II e d. Thereza Cristina jantaram e dirigiram-se ao Teatro São João a convite do Barão, assistindo a uma peça dramática em suas honras. Às 8h32 da manhã do dia 19 de novembro, todas as autoridades locais, clero e grande quantidade de gente compareceram à última despedida aos monarcas.

D. Pedro II, Thereza Cristina, o Conde d’Eu e os demais ministros e titulares do Império saíam do Vale do Paraíba paulista, deixando para trás alguns poucos nobres sinceramente cativados pelo jogo de cena das visitas Imperiais, mas um séquito de cafeicultores escravocratas insatisfeitos, que nos dias de festa levantavam vivas ao Imperador, mas ao apagar das luzes reuniam-se em clubes republicanos.

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